VIRTUDES E NÃO VIRTUDES - FILOSOFIA CHINESA

Existe um texto chinês muito antigo, chamado “Tratado Sobre a União Oculta”, traduzido e interpretado por Wu Jyh Cherng, que fala sobre os 5 elementos da natureza (água, madeira, fogo, terra e metal) e suas correlações. Explica que tudo o que existe – sentimentos, órgãos, estações do ano, etc - está relacionado a um desses elementos e entendendo suas interações entendemos como nós mesmo e a realidade funciona. Vou tentar resumir um trecho que achei muito interessante que fala sobre as virtudes e as não-virtudes que estão relacionadas a cada elemento e como um age sobre o outro. Quero passar para vocês o que aprendi.

Cada elemento possuí uma virtude e sua não-virtude
  • Madeira: a virtude da madeira é a bondade e a negação dessa virtude é a forma ou a aparência. Quanto mais bondade menos apegado à forma das coisas, ou seja, não se restringe à aparência.
  • Terra: a virtude da terra é a sinceridade e sua negação é o pensamento incessante. Uma pessoa sincera não elabora pensamentos demais, explicações demais, palavras demais para falar dos seus atos ou da seu ponto de vista.
  • Água: a virtude da água é a sabedoria e o conceito de “conhecimento” é sua negação. Quanto mais sabedoria menos necessidade de acumular conhecimentos supérfulos e nem de revelar esses conhecimentos para os que estão ao redor.
  • Fogo: polidez é a virtude do fogo e sua negação é a emoção. Quanto mais polidez, menos reações intensas, sentimentos excessivos e demonstração de emoções exageradas.
  • Metal: a virtude do metal é a justiça e a ação impulsiva é sua negação. Uma pessoa justa não obedece a impulsos de ira ou irritação porque cultiva, no seu íntimo, a imparcialidade diante dos apelos do mundo.

Como um elemento está diretamente relacionado a outro:

  • Madeira controla terra, portanto bondade controla pensamentos
  • Terra controla água, portanto sinceridade controla inteligência
  • Água controla fogo, portanto sabedoria controla a emoção
  • Fogo controla metal, portanto polidez controla a ação
  • Metal controla madeira, portanto justiça controla forma/aparência

Isso quer dizer que:

  • Quem possuí um coração bondade não permite que pensamentos incorretos dominem sua mente porque não cultiva impressões ligadas à forma ou à aparência do que observa. Para cultivar essa virtude é preciso perguntar a si mesmo, sempre que a mente for dominado por pensamentos: “esse pensamento é de bondade? Estou sendo uma pessoa bondosa?”
  • A sinceridade implica ausência de intenções incorretas e não reveladas; e intencionalidade implica o uso da esperteza ou da inteligência desprovida de sabedoria. Usando a sinceridade para controlar a inteligência, evita-se o acúmulo de conhecimentos supérfulos. A capacidade de compreender com lucidez as manifestações mundanas precisa ser direcionada apenas para alcanças objetivos de retidão. Para cultivar essa virtude é preciso perguntar para si mesmo quando a mente é tomada por raciocínios elaborados, muito intencionais: “Qual é minha verdadeira intenção quando levo meu raciocínio nessa direção? Estou sendo uma pessoa sincera?”
  • Aplica-se a sabedoria para controlar a explosão de sentimentos excessivos e atitudes mentais exacerbadas. Nem a emoção desmedida, nem a ausência de emoção: apenas o sentimento no centro, que reconhece os limites de uma sábia moderação. Para cultivar essa virtude é preciso perguntar a si mesmo, sempre que for tomado por uma emoção muito intensa: “de onde vem essa emoção? Existe um motivo real, ligado à essência da questão, que justifica essa exacerbação? Esse sentimento irá me levar ao descontrole de palavras e gestos e ao desequilíbrio nas relações sociais?”
  • Aplica-se a virtude da polidez para controlar as ações impulsivas que conduzem, quase sempre, às atitudes extremas. A polidez, que pode ser demonstrada através da gentileza de gestos e palavras, consegue controlar as ações incorretas. A pessoa polida compreende que ações exageradas e agressivas causam sempre dano no convívio com os outros seres. Pergunta a si mesmo, antes de iniciar qualquer ação que lhe pareça inconveniente ou irrefletida, ou quando sentir propensão a uma reação impulsiva: “esse é um gesto educado? Estou sendo uma pessoa polida?”
  • Justiça implica capacidade para se dar a cada um aquilo que é seu, segundo a melhor consciência de igualdade para todos. Aplica-se a virtude da justiça para controlar o olhar que enxerga a forma, sem se dar conta de que existe uma essência por trás da aparência. É preciso perguntar a si mesmo sempre que a mente for tomada por dúvidas com relação a justeza de uma ação, ou quando for necessário atuar ou elaborar uma opinião: “Estou sendo uma pessoa justa, que olha a essência da questão e não se deixa levar pelas aparências?”

A filosofia chinesa é simples de ser entendida e aplicada, e nem por isso, deixa de ser profunda e extremamente verdadeira. Reflita sobre essas virtudes e veja como você se relaciona com elas no seu íntimo e no seu dia a dia.

---------------- Bruna Pinto


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